Limite de 21 milhões de bitcoins: o que vai acontecer depois que todos os BTC tiverem sido minerados?
O bitcoin continua ganhando adesão e popularidade por conta de sua natureza descentralizada a potencial de valorização no longo prazo. Mais de 19 milhões de BTC já foram minerados, e o próximo halving do Bitcoin ocorrerá daqui a menos de um ano. Com isso, surge uma grande dúvida: o que vai acontecer depois que todos os BTC tiverem sido minerados?
Lições principais:
Em média, 900 bitcoins são minerados a cada dia. Cerca de 92,358% de todos os BTC já foram minerados.
O próximo halving do Bitcoin ocorrerá em 2024 e, a partir desse momento, a recompensa de mineração será reduzida dos atuais 6,25 BTC para 3,125 BTC.
Os principais stakeholders que deverão ser afetados quando todos os 21 milhões de bitcoins tiverem sido minerados são os mineradores de BTC, investidores (tanto pessoa física quanto jurídica) e governos.
Quantos bitcoins ainda podem ser minerados?
No momento desta publicação (junho de 2023), cerca de 19,402 milhões de bitcoins já estão em circulação, o que significa que restam somente 1,59 milhões de BTC a serem minerados. Em média, 37,5 bitcoins são minerados a cada hora, ou seja, 900 BTC por dia. Mas nenhum bitcoin é, de fato, perdido. Quando alguém fala em bitcoins “perdidos”, está na verdade se referindo a pessoas que perderam suas chaves privadas, indisponibilizando suas criptomoedas para sempre.
Eventos de halving do Bitcoin
No processo de halving, o número de novos bitcoins disponibilizados é cortado pela metade a cada 210,000 blocos minerados (mais ou menos a cada quatro anos). Isso significa que o último bitcoin será minerado até o final de 2078. Em outras palavras, quando esse momento chegar, não será possível minerar novos bitcoins.
Existe uma certa confusão quanto à data exata em que se esgotará a oferta total de bitcoins a serem minerados. Se você procurar a resposta no Google, pode ser que veja uma previsão disso acontecer em 2040 e não em 2078.
Em 2009, quando a blockchain do Bitcoin começou a funcionar, a recompensa de mineração era de 50 BTC por bloco. No primeiro halving do Bitcoin, em novembro de 2012, a recompensa foi reduzida pela metade, para 25 BTC por bloco. Nos eventos subsequentes, a remuneração aos mineradores caiu para 12,5 BTC em julho de 2016 e 6,25 BTC no halving mais recente, em maio de 2020. Estima-se que o próximo halving do Bitcoin ocorra no dia 05 de junho de 2024, ocasião na qual a recompensa de bloco será reduzida para 3,125 BTC. Neste momento, em 15 de junho de 2023, a contagem de blocos minerados está em 794.416, ou seja, faltam ser minerados mais 45.584 blocos até chegar no número 840.000, que acionará o próximo halving.
Data | Recompensa de bloco | Altura do bloco |
2009 | 50 BTC | 0 |
2012 | 25 BTC | 210.000 |
2016 | 12,5 BTC | 420.000 |
2020 | 6,25 BTC | 630.000 |
2024 | 3,125 BTC | 840.000 |
Por que o bitcoin tem uma oferta máxima?
Em 2018,o fundador do Bitcoin, conhecido pelo pseudônimo Satoshi Nakamoto, determinou que o limite máximo de bitcoins em existência seria de 21 milhões, garantindo uma moeda virtual não inflacionária. Já que o bitcoin foi criado para ser usado como moeda transacional (assim como o dinheiro físico), um excesso de BTC no mercado poderia gerar fortes oscilações em seu preço.
Com isso em mente, o inventor do Bitcoin estipulou o limite de 21 milhões para controlar a oferta e, consequentemente, os preços futuros e as oscilações da moeda.
Uma forma de controlar esse mecanismo seria disponibilizar os bitcoins gradualmente, sem inundar o mercado liberando todos de uma vez. Sendo assim, o código do Bitcoin foi desenvolvido de forma a limitar o número de BTCs minerados a cada ano, até que seja atingido o limite de 21 milhões.
Novos bitcoins entram em circulação quando um novo bloco é minerado e acrescentado à blockchain do Bitcoin. A mineração de bitcoins é baseada em um algoritmo matemático de alta dificuldade, que ajuda a estabilizar todo o sistema garantindo que o processo de criação de cada bloco tenha uma duração de 10 minutos. A dificuldade da mineração é ajustada a cada 2.016 blocos, ou seja, mais ou menos a cada duas semanas, conforme a rede detecta aumentos ou reduções das atividades dos mineradores. Conforme necessário, a rede ajusta a dificuldade de forma que a mineração de cada bloco leve cerca de 10 minutos.
Quantos bitcoins existem?
Com a aproximação da data da mineração do último BTC, o número de blocos do Bitcoin disponíveis para minerar fica cada vez menor. No entanto, é essencial entender que nem todos os bitcoins já minerados estão em circulação, o que reduz ainda mais a oferta total de BTC circulante em qualquer dado momento. Há muitas explicações para a falta de correlação entre a oferta existente de bitcoins e o total de BTC já minerado.
Um dos principais motivos é o método usado para guardar a criptomoeda. Para proteger seus bitcoins, os proprietários precisam usar carteiras e senhas, tornando as moedas completamente inacessíveis caso o dono da carteira venha a falecer sem divulgar a senha para ninguém. Também há outros erros que as pessoas podem cometer e que levam à perda irreversível de bitcoins. Diferentemente de qualquer outro ativo, esta moeda digital inovadora não pode ser recuperada sem o consentimento do proprietário.
De acordo com um estudo recente publicado pelo The New York Times, quase 20% de todos os bitcoins estão trancados em carteiras inacessíveis, com um valor total estimado de US$ 140 bilhões. Essas criptomoedas provavelmente continuarão bloqueadas indefinidamente, o que afeta a oferta total de bitcoins em circulação.
Da próxima vez que alguém perguntar quantos bitcoins circulam no mercado hoje, basta olhar os dados de quantidade em circulação. No momento desta publicação, este número é por volta de 19,4 milhões, menos as moedas aprisionadas em carteiras inacessíveis.
O número final
Mesmo que não houvesse bitcoins inacessíveis, seria teoricamente impossível atingir o limite de 21 milhões depois que todos os BTCs forem minerados. Na verdade, o número final ficará bem próximo do limite, pois a oferta de bitcoins nunca é expressa em termos exatos. Ao invés disso, o código usado pelo Bitcoin arredonda as casas decimais para o número inteiro mais próximo. Isso significa que uma oferta de 6,2589 BTC será representada como 6 BTC.
Os bitcoins são divididos em unidades menores, chamadas de satoshis. Um satoshi é 1/100.000.000 de um bitcoin. Por conta dessas unidades menores e do arredondamento, os especialistas sugerem que a oferta de bitcoins ficará limitada a 20.999.999 ao invés de 21 milhões.
Incentivo para o aumento da oferta total de bitcoins
A mineração de bitcoins é popular porque há um incentivo imenso para os mineradores gerarem o maior número possível de bitcoins, potencializando seus lucros. Além dos bitcoins das recompensas de bloco, os mineradores também recebem uma parte das taxas de transação associadas à finalização de um bloco.
Depois dos três últimos halvings, a confirmação de cada bloco rende atualmente 6,25 BTC ao respectivo minerador. Apesar da redução do valor da recompensa, a valorização de cada bitcoin compensa esse efeito do halving. Com o aumento da adoção do Bitcoin, as taxas de transação também subiram. Apesar da expectativa de aumento das taxas de transação do Bitcoin, nem todas as operações com BTC precisam ser liquidadas na blockchain. Camadas adicionais, como a Rede Lightning, oferecem alternativas mais rápidas e baratas para a transferência de bitcoins e, provavelmente, ajudarão a promover a adoção em massa.
De acordo com alguns especialistas, não há falta de incentivo, pois as taxas de transação (que compõem somente 6% das receitas atuais do mineradores) devem aumentar substancialmente, compensando as perdas ocasionadas pela diminuição da recompensa de bloco. Mesmo assim, muitos stakeholders ativos no setor do Bitcoin não estão satisfeitos com essa previsão. Eles ainda querem saber o que vai acontecer quando todos os 21 milhões de bitcoins forem minerados, e se há algo que possam fazer quanto ao número de moedas que existirá no futuro.
É possível mudar o limite de oferta do Bitcoin?
Teoricamente, é possível mudar a oferta total de bitcoins alterando o código subjacente. De acordo com os especialistas, o Bitcoin é um software e, portanto, pode ser modificado. Isso exigiria um consenso entre desenvolvedores, stakeholders e a comunidade em geral. Sendo obtido esse consenso, os desenvolvedores escreveriam um código para integrar as mudanças ao Bitcoin Core.
Para que tudo funcione de maneira adequada, o próximo passo seria garantir que todos os nodos da rede Bitcoin aceitem as alterações ou sejam excluídos da rede à força. No entanto, convencer todos eles a aceitar as mudanças não seria tarefa fácil, pois a plataforma do Bitcoin foi projetada primariamente para ser um sistema independente, sem necessidade de mudanças. A esta altura, os desenvolvedores precisariam promover um hard fork, ou seja, uma mudança baseada em um consenso que passa a aceitar um comportamento antes considerado inválido. No cenário perfeito, todos os nodos aceitariam as mudanças propostas e realizariam a atualização necessária.
Em outro cenário possível, alguns usuários do Bitcoin prefeririam manter o limite atual de 21 milhões de BTC. Nessa situação, os mineradores e nós dissidentes continuariam a operar na plataforma existente. Eles provavelmente passariam a competir pela participação de mercado com a nova plataforma do Bitcoin. Isso é chamado de hard fork contencioso, pois criaria uma nova rede, separando a base de mineradores em dois grupos. Um exemplo disso foi o Bitcoin Cash.
Impacto sobre os stakeholders: o que vai acontecer depois que todos os 21 milhões de BTC tiverem sido minerados?
Atualmente, ninguém é capaz de prever com exatidão o que vai acontecer quando todos os bitcoins disponíveis forem minerados.
Vários analistas defendem o uso de taxas de transação mais altas para compensar a redução das recompensas de bloco. Novas tecnologias provavelmente ajudarão a cortar os custos de mineração, eventualmente gerando mais lucros para os mineradores. Uma outra teoria sugere que as plataformas do Bitcoin serão usadas somente para transações de grande porte, envolvendo valores altíssimos, oferecendo lucros suficientes para satisfazer os stakeholders. Há também quem especule sobre a possibilidade de adoção do mecanismo de consenso Proof-of-Stake (PoS) ou a formação de cartéis de mineradores.
A seguir, apresentamos uma visão geral do que vai acontecer depois que todos os bitcoins tiverem sido minerados, pelo ponto de vista dos stakeholders.
Como isso vai afetar os mineradores do Bitcoin?
Os mineradores são responsáveis por verificar transações e adicionar novos blocos à rede Bitcoin. Para isso, eles precisam resolver problemas matemáticos complexos, o que hoje exige o uso de poderosos e caros computadores chamados de ASICs, que consomem muita eletricidade.
Para compensar o esforço e o custo necessários para proteger a rede, os mineradores recebem recompensas de bloco e taxas de transação.
Atualmente, a maioria dos mineradores e das empresas de mineração usam o sistema de recompensa de bloco do Bitcoin para compensar o custo da mineração e operar com lucro. Mas, conforme as recompensas vão sendo cortadas pela metade, a expectativa é que os custos de mineração do Bitcoin excedam as recompensas recebidas pelos mineradores bem antes de ser atingido o limite de oferta.
No entanto, se o bitcoin se valorizar ao longo do tempo, isso pode compensar a redução da recompensa de bloco da rede. Atualmente, de acordo com um modelo de regressão, o custo médio para minerar 1 BTC é cerca de US$ 17.600, e os mineradores mais eficientes, que usam o equipamento Antminer S19 XP, conseguem operar com um preço de equilíbrio na faixa de US$ 7,700 a US$ 10,560, dependendo da dificuldade de mineração e o custo da energia elétrica. Todos os mineradores da geração anterior (2016 a 2018) já deixaram de ser rentáveis, e isso também se aplica a muitos dos equipamentos de mineração de 2019 e 2020.
O que acontecerá no futuro
No próximo halving do Bitcoin, em 2024, esses preços de equilíbrio deverão dobrar, caso não sejam criados equipamentos mais eficientes ou descobertas fontes de eletricidade mais baratas. Se o preço do BTC não subir até valores no mínimo equivalentes a esses níveis, isso desencadeará problemas entre os mineradores, potencialmente criando uma “espiral da morte” em que um número grande demais de mineradores encerrará as atividades por falta de rentabilidade. Nesse caso, não haverá poder de hash suficiente para minerar os blocos necessários para que a dificuldade de mineração seja reajustada quinzenalmente.
Então resta uma pergunta: o que vai acontecer com as taxas de processamento de transações quando todos os bitcoins tiverem sido minerados? Em tese, se um minerador validar transações suficientes, as taxas recebidas podem ajudar a compensar a queda nas recompensas de bloco. Mas o valor da taxa de transação dependerá do estado da rede no futuro.
Se o limite atual de 21 milhões não for alterado, um dos cenários existentes deverá ocorrer: taxas de transação maiores e custos operacionais menores a ponto de manter a viabilidade da operação; ou, no outro extremo, os mineradores podem formar cartéis para controlar a oferta e demanda de bitcoins, assim como vemos hoje nos setores de produção de petróleo e extração de diamantes.
Investidores pessoa física e HODLers
Conforme a mineração de bitcoins se aproxima do limite, espera-se uma valorização da criptomoeda. Presumindo que o Bitcoin consiga manter sua popularidade, a oferta limitada e o valor como investimento incentivarão as pessoas a usar o BTC como commodity de investimento, ou seja, como reserva de valor e não moeda transacional.
O gráfico de preço do BTC favorece essa extrapolação, pois o valor da criptomoeda tem subido consistentemente, apesar da redução da recompensa por bloco. Nesse caso, HODLers e investidores pessoa física guardarão bitcoins em suas carteiras, ao invés de usá-las. Isso reduzirá ainda mais a oferta circulante e manterá o valor da moeda nas alturas.
No futuro, quando uma nova crise surgir, os bancos centrais ao redor do mundo provavelmente tentarão combatê-la imprimindo mais dinheiro, causando uma desvalorização das moedas nacionais. Os cidadãos desses países poderão optar por usar suas moedas locais altamente inflacionárias para comprar bitcoin, uma moeda digital deflacionária que não pode ser controlada pelos governos e serve como reserva de valor, não importa qual seja a oferta de BTC (desde que ela seja limitada).
Investidores institucionais
Há um número cada vez maior de empresas interessadas em dar seus primeiros passos no mundo das criptomoedas. Tesla, Block, Morgan Stanley e vários outros nomes já divulgaram planos de longo prazo para a adoção de criptomoedas. Até mesmo o Goldman Sachs quer comprar cripto. Se a popularidade das criptomoedas continuar, elas provavelmente atrairão mais investidores institucionais querendo ser os primeiros a entrar no mercado e aproveitar as vantagens que isso costuma trazer.
De acordo com Philip Gradwell, economista-chefe da Chainalysis, os investidores institucionais estão tratando o bitcoin como ouro digital. Dado o limite de mineração, a escassez e o potencial de valorização do bitcoin, os investidores institucionais usarão a moeda virtual como proteção (hedge) contra a inflação, assim como já usaram os metais preciosos no passado.
Governos
Para os governos ao redor do mundo, o bitcoin e outras criptomoedas são uma faca de dois gumes. A grande maioria dos países não aceita o BTC como moeda de curso legal, mas acompanha de perto o impacto da criptomoeda sobre a economia mundial. El Salvador foi o primeiro país a adotar o bitcoin como moeda corrente, mas há também outros países com alta probabilidade de facilitar ou oficializar o uso do BTC.
Ao invés de uma postura do tipo “tudo ou nada”, os legisladores nacionais provavelmente favorecerão algo no meio do caminho, como a aprovação de ETFs de bitcoin. Os governos adotarão o bitcoin, mas farão de tudo para regular os mínimos detalhes de seu uso. Ao invés de esperar uma resposta para a pergunta “o que vai acontecer quando todos os bitcoins tiverem sido minerados?”, há uma forte possibilidade dos governos federais (inclusive o dos Estados Unidos) tentarem competir com o BTC criando suas próprias criptomoedas oficiais, conhecidas como CBDCs.
Conclusão
O bitcoin tem mantido sua popularidade há muitos anos e, com isso, podemos inferir que a criptomoeda continuará a atrair investidores no futuro, mesmo depois que sua oferta chegar ao limite. A mineração do último bitcoin não deverá desencadear um cenário apocalíptico, a não ser que a moeda perca demanda e adesão. O mais provável é que o ecossistema do Bitcoin continue a se adaptar às mudanças da economia global, o que dá a ele uma perspectiva estável no longo prazo.
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